Marta Lagoa

Assim, hoje posso dizer: vejo-me aqui como nunca antes me tinha visto em lugar algum.

Existem pequenos mas constantes sofrimentos, aparentemente tão difusos e subtis que se mostram difíceis de compreender, tornando impossível entender se pertencem ao corpo ou à mente. E, sejam estes as ansiedades que nos consomem ou leves indisposições, são também as coisas que, frequentemente, me fazem pensar na dificuldade de existir com esta náusea. Náusea tão indefinida que não sei se será todo o tédio existencial que me rodeia ou um aviso de que estarei prestes a vomitar. Porém, é nesta “floresta do alheamento” na qual vivemos onde, apesar de toda a dispersão, me vejo. É nela onde me perco, mas é onde finalmente sinto a necessidade de fazer algo mais que apenas existir. É aqui que vivo os momentos que, embora efémeros, parecem conseguir fazer o Tempo deixar de saber como decorrer, onde as horas passadas parecem corpóreas. Assim, hoje posso dizer: vejo-me aqui como nunca antes me tinha visto em lugar algum.