Sofia Soqueiro Soares

“Prego a fundo numa velocidade sem retorno. É assim que a sociedade nos tenta engolir e transformar em máquinas perfeitas de trabalho.”

Prego a fundo numa velocidade sem retorno. É assim que a sociedade nos tenta engolir e transformar em máquinas perfeitas de trabalho. É assim que algumas pessoas nos veem e não entendem o que se passa do outro lado da margem.

Sonhamos ingressar no mercado de trabalho, mas esquecemo-nos de que não vamos preparados para tal. Somos atirados aos lobos e a lei do desenrasque é a melhor arma – o que pode ser muito bom ou muito mau, provocando até burnout.

Desde sempre somos consumidos pela ansiedade, pelo stress frenético de um quotidiano que nem conseguimos entender. Calafrios, borboletas na barriga, perda de apetite, insónias…e podia continuar a enumerar os milhares de sintomas que não são normais, mas muitas vezes reduzidos a “são coisas da tua cabeça”. A questão é que não são e estamos num século onde todos já deviam entender isso. Irónico, certo? Portugal é um dos países com maior uso de antidepressivos e medicamentos para a ansiedade e a COVID-19 apenas veio agravar ainda mais esta taxa. Mas onde estará o problema? Em cada um de nós, claro. O estigma continua presente e a comunicação social ainda começa a dar os primeiros passos nesta desconstrução tão importante e fundamental. As pessoas sentem medo em assumir que têm determinado distúrbio psicológico pois sabem que vão ser julgadas, apelidadas de “malucas” e colocadas de parte. Esquecem-se que, maior parte das vezes, o silêncio é o maior grito de socorro e embora não sejam situações palpáveis são tão ou mais graves que outras doenças mais físicas. O Relatório de Primavera 2019, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, considera que a Saúde Mental é o «parente pobre da saúde em Portugal» e esta área continua em atraso relativamente a outras. Em 2017 éramos o país da OCDE com maior uso de psicofármacos, e a mudança? A consciencialização? Vem devagar, muito devagar.

Embora banalizada, a ansiedade é muito mais do que uma pedra no sapato. Invade, permanece e não vai embora – nunca. Seja nas coisas mais mínimas como o nervosinho de se ter uma grande apresentação ou um trabalho novo, uma pessoa nova na nossa vida, um local completamente fechado, seja na tomada de decisões ou em situações específicas como pensar que não conseguimos resolver determinado problema ou deixar alguma coisa para trás. E, por muito que queiramos, nunca se sabe muito bem o que fazer para a ultrapassar. O melhor? Pedir ajuda, sempre. Entre gastar 50 euros em roupa ou num psicólogo/terapeuta/psicoterapeuta acho que a resposta tende a ser um pouco óbvia. Mas, infelizmente, não é. Temos de mudar o estigma de que isto dos psicólogos são só coisas para ricos e que dizer o que se sente e o que se pensa a um total estranho é um absurdo e uma perda de tempo. Só que é esse mesmo estranho que na maior parte das vezes consegue resolver o problema ou ajudar a atenuar um bocadinho o caos que se instala.

Se o panorama é mau, temos de pensar que vai melhorar. Porque, acreditem, muda. Leva o seu tempo a sair do fundo do poço, mas uma vez no fundo é impossível ir mais fundo. E o caminho? É em frente porque o futuro é já ali e existe tanta vida para aproveitar.