Rui Campos

“Contudo, não há muito para além disso que eu possa fazer, é quase como uma relação simbiótica: eu não existo se não pensar, mas o pensamento não acontece para além deste seu enclausuramento que é o meu corpo.

Mas afinal, o que é o sucesso? Uma escada que sobe, ou desce? Com ou sem corrimão? Será sequer uma escada?

– Porque é que o procuras?

Não sei, talvez pela sua aparência fácil e sedutora. Não é por isso mesmo que este está pintado em todas as telas sonhadas por nós?

Como medes o sucesso?

Ou chegamos lá, ou não – isto gostaria eu de pensar. É simplesmente complicado, pois, ora incompleto, ora na totalidade da sua fruição, este existe.

O segredo está na nossa preferência: quimérica ou corpórea, o meio sucesso ou o sucesso. Não sejamos ingénuos, no entanto, podemos sempre fazer mais ou melhor, ou mais melhor.

Eu procuro completar o incompleto, mas essa demanda só me traz mais vazio.

Porque escreves sobre o sucesso se não o compreendes?

Olho para o lado,

vejo um sorriso

Olho para dentro,

tristeza? Não

felicidade? Não sorrio

Nada.

Já que o sucesso, por norma, arrasta consigo felicidade, pode ser que compreendendo-o, possa defini-lo e sorrir sem temer que me esteja a enganar a mim próprio, vítima, uma vez mais, da candura.

O que esperavas disto?

Algo fácil, como: “Guio-me pelo caminho de maior incompletude, pois, assim, percebo o quão pequeno sou, mas o quão grande poderei ser.” (inspirador, não?)

Uma constatação razoável, perfeita para um Ricardo Reis num dia mais emotivo, todavia, a incerteza reside na incerteza de realmente me conseguir mover, ou de estar apenas a ser complacente e contentar-me com o quarto, em vez do meio sucesso.

De onde surge a incompletude?

(esboço agora um sorriso, acho que a esta saberei responder)

Filosofia, é de lá… ou melhor, aprendi sobre ela em filosofia.

Há uma grande diferença entre o Homem e o cão, precisamente, porque nós nem nos sentar conseguimos ao nascer, enquanto o cão, em pouco tempo, se ergue. Dependemos, então, do meio social, em toda a sua plenitude. Somos especiais; uma das poucas situações em que aceito que me chamem de especial, já que não são assim tantos os que se sentam e pensam, e perdem tempo para pensar. Contudo, não há muito para além disso que eu possa fazer, é quase como uma relação simbiótica: eu não existo se não pensar, mas o pensamento não acontece para além deste seu enclausuramento que é o meu corpo. Que vantagem é que isto me oferece? Nenhuma, pois quem menos questiona, mais feliz é. Se me deixar abraçar pelo movimento hiperdramático da sociedade, acabo por estar mais perto do suicídio. Caso escolhesse esta saída, teria o que procuro, uma certeza, ou se calhar mais que uma.

Assim, e pondo o sucesso de parte, mas não negando a sua sensualidade, gostava de morrer sabendo um pouco… não sejas complacente… quase tudo sobre mim. Mas não agora, ou daqui a vinte anos, só antes de tudo cessar, dado que esta incerteza e incompletude, uma tormenta, na verdade, me empurram, e me fazem ser um pouco menos, felizmente, infeliz.