António Teixeira
“(…) Um comprimido de agitação coletiva e revolta populista
Num êxtase homeopático de frustrações e complexos…
E o amanhã miraculosamente nascerá puro”
Um mundo, uma doutrina…
A doutrina de ter doutrina e não ter doutrina nenhuma.
A anarquia do pensamento…
Falar para ser ouvido,
O prazer de dizer pela agitação e notoriedade…
Mas ninguém acredita pela fé, pela esperança ou um ideal.
É a civilização do imediato.
Cada um dos nossos demónios mais profundos,
Toda a podridão que achamos que existe
Têm uma solução fácil e rápida:
Dois minutos de ódio,
Um comprimido de agitação coletiva e revolta populista,
Num êxtase homeopático de frustrações e complexos…
E o amanhã miraculosamente nascerá puro;
O Mundo curado de uma doença que não sabemos qual é.
Essa é a fé que temos…
E a última que deveríamos ter…
O livro sagrado é o momento de prazer…
Todas as faces são iguais,
Capas de cópias de um mesmo livro,
A página principal de um corpo,
Uma parede branca e podre,
Onde se ostenta a beleza corretíssima do vazio
Numa moldura de sorrisos e virar de caras.
Mas é tudo frágil e efémero,
São tudo palácios em pilares de areia.
Tantos sorrisos,
Tanta luz e tantos holofotes,
Tanta atenção.
Todos tão espontâneos e originais e dramáticos e belos e sociais e plásticos e perfeitos,
Todos sempre plásticos e bonitos.
É tudo a merda que se vê por aqui.
Tudo é tão bonito que enjoa.
Não há um pedaço de loucura, de instinto e verdade.