Rui Miranda
“(…) Fugimos, mas apenas para dentro.
Queremos, mas não achamos o centro. (…)”
Seguimos a um mesmo ritmo,
Outra vez.
Inventámos maravilhas e, desiludidos,
Descobrimos que alguém já o fez.
Percorremos caminhos idênticos
Querendo abrir portas distintas.
Sabemos julgar o vulgar,
Mas chamamos-lhe as “7 quintas”.
Ouvimos os sons,
Nem pensamos.
Lemos as letras,
Cansamos.
Apostamos tudo no preto.
Calha vermelho.
Perdemos…
Subimos, subimos, a pique.
Caímos e ficamos inertes.
Enrolamos esperanças em novelos
Obesos, obesos e, crentes,
Pegamos a ponta entre os dentes.
Desenrolam-se, num fio, são belos.
Fugimos, mas apenas para dentro.
Queremos, mas não achamos o centro.
Exigimos, mas não somos prudentes.
Vivemos, mas nunca realmente.
Desejamos, mas ficamos em pé,
Esperando diferenças que não vemos.
Amamos gratificação instantânea,
Por mais um esforço que não fazemos…
E não somos nada.
Recebemos o que supostamente devemos ganhar.
Vestimos o que supostamente devemos usar.
E trabalhamos… e não somos mesmo nada.
Compramos coisas que podemos pagar mas que a ninguém interessam.
Não vivemos, nem acreditamos. Acumulamos. (adap.)