Sofia Lopes
“Leva-me para uma salinha escura, abafada, quente e apertada
Onde se cantam baladas direcionadas, para todos menos para mim.
Onde se ouve sobre alguém que não eu, pois não importa se eu vim.”
Guiava distraído e habituado
Mas ergue-se em asfalto uma ponte.
Para onde foram os meus solavancos de rochas partidas?
Saborosamente desconfortáveis por estarem fodidas
Tão menos avassaladoras que este carreiro
Sem me pedir, chegou e mexeu-me no eixo.
Pega em mim, só hoje
Tira-me deste estrado para onde ninguém foge,
Leva-me para uma salinha escura, abafada, quente e apertada
Onde se cantam baladas direcionadas, para todos menos para mim.
Onde se ouve sobre alguém que não eu, pois não importa se eu vim.
Onde ninguém me reconhece e quem sabe me ignora, porque é suposto ser assim.
Leva-me ao telhado, antes de amanhã
Para que possa gritar na noite vã
“Ah! Idiotas diminutos, aqui não me apanham”
Vejo daqui tudo, caras honestas porque não me olham
Luzes que se espetam para os lados porque vejo mal
Felizes por me relembrarem que sou anormal
Tremem-me as pernas e a mão
Porque tenho vertigens e mais nenhuma razão
Avisto homens nas sombras que não me arrepiam
São galhos e não sabem quem eu sou
E isto aquece-me
Ninguém sabe onde estou.
Amanhã, sou eu de novo,
Serei tudo o que sou, que é nada
Mas hoje fui menos que isso,
Porque fui tudo menos eu.