Anónimo

“Sê feliz, por nós os dois.

Minha querida,

Mais um dia em que carrego com esforço as minhas botas gastas,
Um peso crescente por uma causa que não compreendo nem sinto.
Ao menos a terra molhada faz-me sentir mais perto de ti,
Volto por breves momentos ao nosso modesto quintal.
Ai, se soubesses o que daria,
Para voltar a dançar contigo como naquele dia.

Se não fosse a fotografia que me deste à entrada do comboio,
Já não estaria aqui para te poder escrever,
Agarro-a com mais força do que a minha própria arma.
Mas quanto mais tenho sorte,
Mais estou ligado à morte.

Por favor meu amor, foge,
Foge, não esperes por mim.
Já não me conheço, não sei quem ou o que sou,
Ser Humano certamente não sou.

Esperança? Ao tempo que desapareceu,
Só permaneço vivo para não chorares por mim,
Não o mereço, não te mereço.
Caso haja fim desta guerra, não conseguirei ter um novo começo.

Peço apenas que não te esqueças de mim,
Dos nossos momentos, do que poderíamos ser,
Guarda o anel que deixei na mesa de cabeceira,
Era com ele que te iria pedir para seres minha eternamente.
E assim o serás para sempre na minha mente.

Sê feliz, por nós os dois.