Manuel Cunha

“O que nunca foi,
Senão no íntimo meu,
Cresce não sendo,
Resplandece, esmorecendo.

O que nunca foi
Nunca se viu.
Chegou, pediu,
Fez-se.

Mas desfeito sumiu.

O que nunca foi
Quis sabor em sobeja,
Trincar a doce cereja.
Quis a ousadia.

Mas essa
Que nunca se veja.
(talvez um dia).

O que nunca foi,
Qual velada prece,
Ascendeu em asas
Sem que soubesse
Que o sol que queima, tudo arrefece.

O que nunca foi,
Senão no íntimo meu,
Cresce não sendo,
Resplandece, esmorecendo.

Desespera-me, mostrando-me o céu.

(mas na verdade, que sei eu?)