Guilherme Pereira

“Os britânicos perceberam que estavam a lutar contra uma força muito maior que a deles e usaram a velha máxima “se não podes vencê-los, junta-te a eles”, aderindo, assim, à União Europeia.”

Todos acordamos um pouco surpreendidos numa manhã de junho de 2016, quando soubemos que o resultado do referendo acerca da saída da UE do Reino Unido tinha dado uma vitória ao movimento para abandonar a União. A maioria de nós não esperava tal resultado, apesar de as sondagens terem estimado uma aproximação perigosa do movimento que apoiava a saída. Aparentemente, os jovens não votaram muito, mas os resultados apareceram – a abstenção é uma preocupação por todo o continente, e aqui se demonstram as suas consequências.

O Reino Unido nunca foi um real membro da União Europeia. Tentou concorrer contra a sua formação, no pós-segunda guerra mundial. Criou a EFTA (onde também estava Portugal) para equilibrar a balança com a UE, mas falhou fortemente na sua tentativa. Os britânicos perceberam que estavam a lutar contra uma força muito maior que a deles e usaram a velha máxima “se não podes vencê-los, junta-te a eles”, aderindo, assim, à União Europeia. Num pequeno vídeo de uma sitcom britânica da época, chamada Yes Minister, o “ministro” afirma que querem juntar-se à União para que esta falhe. É humor surpreendentemente acertado. Charles de Gaulle lutou para que os britânicos não entrassem, mas, quando o velho general perdeu a sua influência, nada impediu os britânicos de se unirem. No entanto, segundo as suas próprias condições. Mais tarde, não aceitaram o Euro nem as regras financeiras. Pediram, no entanto, que algumas instituições bancárias fossem sediadas no próprio Reino Unido (o sentido da ironia é bem conhecido dos britânicos, aparentemente).

O descontentamento com a União Europeia é um terreno de fácil crescimento populista, como escrevi no último texto sobre a condição italiana, aqui publicado (“Itália, o Céu dos Populistas?”). E os partidos ingleses (ambos os partidos, Trabalhista e Conservador) aproveitaram para atribuir culpas à União dos seus próprios falhanços, quando, ao mesmo tempo, eles próprios aprovavam no parlamento europeu as legislações que criticavam internamente. Depois, os resultados estão à vista: o referendo e esta profunda confusão política, económica e social, à qual assistimos atualmente.

Curiosamente, isto serviu para unir ainda mais os restantes povos da Europa. Todas as sondagens revelam que a percentagem de habitantes da UE que quer que o seu país abandone a UE diminuiu em quase todos os países – o euroceticismo estancou e até diminuiu. Cada vez mais, sobretudo na Alemanha e em França, cresce a vontade de uma Europa mais forte, federal e da criação de uma espécie de “Estados Unidos da Europa”. Esperemos que, por fim, o sonho de Jean Monnet e da geração dos nossos avós, o sonho de uma Europa sem fronteiras e em paz, seja finalmente alcançado.