Guilherme Pereira
“A Itália é o Céu do populismo porque nunca escolheu crescer e corrigir os seus próprios erros (…)“
As sondagens indicam que em Itália o M5S e a Lega, partidos que governam atualmente o país, vencerão nas Eleições Europeias do próximo ano. Os partidos, autodefinidos como “populistas”, vão assim provavelmente repetir o êxito das últimas legislativas. Recentemente, a União Europeia chumbou o Orçamento de Estado Italiano, que aumenta o défice através de ajudas sociais, cortes nos impostos e do fim dos aumentos da idade da reforma. Isto num país com uma dívida de 131% do PIB.
O populismo tem subido em escalada, com as mais recentes eleições brasileiras a surgirem como exemplo, mas podemos recordar que a primeira vitória desta nova onda foi em Itália. E porquê? Basta lembrarmo-nos das regras do populismo; primeira regra: encontrar um inimigo em comum. Tanto o M5S como a Lega, partidos responsáveis pelo atual governo, encontraram esse adversário: a União Europeia e a sua política acerca dos refugiados. Foi na base da culpabilização da UE e da imigração pelos problemas italianos que tanto o M5S como a Lega se tornaram populares.
Esta situação recorda-me uma outra, similar, no mesmo país: o crescimento do fascismo durante os anos 20. O partido de Mussolini também culpou as potências estrangeiras por ignorarem as reclamações italianas no Tratado de Versalhes, após a vitória na Primeira Guerra Mundial, mas esqueceram os seus próprios problemas. Encontrar um inimigo comum foi também a estratégia, e todos sabemos qual foi o resultado. Não afirmo que o M5S e a Lega são fascistas, efetivamente não o são, mas na minha opinião usam os mesmos mecanismos que usou esse movimento para crescer e mudar para sempre a cena política da península itálica.
A pior parte, no entanto, não é o dano interno que podem causar. O problema vem na alteração do Status Quo europeísta que havia sido mantido no Parlamento Europeu. A Itália é o terceiro país mais populoso na União Europeia e, depois do Brexit, em Maio, selecionarão 76 deputados no Parlamento Europeu (mais de 10% do parlamento). O perigo vem quando isto significa que provavelmente seis, sete ou oito por cento do parlamento serão eurocéticos italianos. Isto é perigoso porque estes deputados não querem avançar com o projeto europeu, não querem construir uma União Europeia melhor. Eles querem destruir a União e com ela todo o “sonho europeu”, e a verdade é que eles continuarão a culpar os problemas externos para justificar a desigualdade económica que existe em Itália, mesmo se não existisse a União Europeia. Seguirão encontrando outras causas, é assim que funciona o populismo. E os problemas internos italianos, como a corrupção, nunca serão corrigidos.
A Itália é o Céu do populismo porque a Itália nunca escolheu crescer e corrigir os seus próprios erros, optando antes por culpar sempre os demais. O povo italiano precisa realmente de pensar se quer destruir a instituição que manteve a paz e a união na Europa (e no seu próprio país) durante os últimos 60 anos.